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Daily Routine by Cristina Ferreira

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Daily Routine by Cristina Ferreira

19
Dez17

A mamã também sente raiva!!!


Cristina Ferreira

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 Inside Out - 2015 Disney Pixar - Anger Exploding

 

 

Nunca consegui compreender o que pretendem exatamente dizer as pessoas que, ao saber que os meus filhos foram de férias com o pai, me abordam e com toda a convicção me lançam frases do tipo: "Oh os teus filhos foram para o pai! Que sorte! Vais ter mais tempo para ti!" Estou separada há quase 8 anos e há quase 8 anos que repetidamente ouço este tipo de expressões de consolo, a meu ver, totalmente inapropriadas! 

 

Sorte? Como pode ser sorte entrar numa casa vazia?! Como pode ser sorte as birras serem substituídas por silêncio absoluto! Como pode ser sorte não ter beijinho de bom dia, nem beijinho de boa noite?! Como pode ser sorte não ter ninguém para me chatear porque quer ver mais um vídeo no Youtube em vez de se ir deitar?! Como pode ser sorte não ter de chamar 10 vezes para ir jantar??? E por aí adiante... Chega de divagar! Julgo que estes breves exemplos são suficientes para uma exposição obvia e detalhada do meu não conceito de sorte!

 

Sob pena de ser massacrada, vou ousar expor a minha opinião sobre a maternidade: a maternidade é o compromisso de uma mãe para a vida! Não é o filho que vêm bater à porta da mãe e perguntar: "Olá! Eu sou um filho! Queres ser a minha mãe?!" Exceção obviamente para gravidez não planeada, normalmente é a mãe que sentindo o "apelo do seu relógio biológico" decide conceber o filho...

 

Há quem adote um animal de estimação, se canse e o abandone! É cruel, é desumano! Há quem queira muito ter filhos, se sinta cansada e vá passando a responsabilidade... Nada me irrita mais, e sim estou mesmo a escrever IRRITA, do que mães acabadas de o ser que já se queixam de não ter tempo para elas procurando delegar para os pais, avós ou afins... a responsabilidade de tomar conta do bebé!

 

Ser mãe é cansativo? Claro que é! Eles exigem tudo e nós damos mais que tudo! Mas para poder dar, é preciso que eles queiram receber... São eles que decidem até quando querem receber... Quando se aproxima de mansinho o Monstro da Adolescência vem acompanhado pelos seus amigos do peito Egoísmo e Egocentrismo! Aí os filhos começam a afastar-se... Surgem as dúvidas e o medo de que talvez o que demos não seja nunca mais com carinho relembrado.

 

Calma, eu sei que não me devo queixar! Eu sei que o afastamento na adolescência é saudável e imperativo para a construção da autonomia necessária e indispensável à vida adulta! Mas caramba... às vezes apetece-me travar o tempo! Sim! Outra vez eu e o tempo!

 

Além de que sou uma mãe divorciada! Existe por acaso alguma mãe divorciada que não saiba o que é sentir a raiva, e sim estou mesmo a escrever RAIVA, a raiva que se sente quando se tem os filhos em tempo de aulas, com as rotinas e as responsabilidades... e quando vêm as férias vão para o pai! Os papás fixes das férias versus as mamãs chatas da rotina e da responsabilidade! 

 

Sim claro que fico feliz pela fantástica relação que têm com o papá... Mas caramba, às vezes fico a pensar e a ruminar sobre o que irão eles recordar quando forem grandes? Os anos em que carinhosamente limpei lágrimas e com eles ao colo passei, pacientemente, noites e noites em claro, os anos das perguntas e respostas constantes e das histórias de encantar, os anos das brincadeiras e dos jogos simples (antes desta malfadada fase de videojogos que eu, mesmo que quisessem a minha presença, seria incapaz de entender quanto mais de jogar!) esses anos, esses momentos mágicos da infância, já se apagaram da mente deles... E quando crescerem vão ficar as fantásticas lembranças das férias divertidas com o pai e eu vou ser lembrada como a mãe chata... E sim isso hoje deixa-me com raiva!

  

Raiva! Inveja! Todas as emoções negativas que se podem imaginar! Sim, afinal sou só humana... E sim, custa-me vê-los crescer e deixarem-me ficar cada vez mais para trás... E pior, mais me custa perceber que eu sou a velha chata e o papá é o papá cool das férias divertidas e inesquecíveis!

 

Claro dir-me-ão as mães mais sábias e tranquilas (grupo ao qual eu até, por norma, costumo pertencer) que eu também cresci, que eu também saí de casa, que eu também me afastei dos meus pais na adolescência! E dirá quem me conhece e conhece os meus filhos e sabe da fantástica relação que afinal tenho com eles: "Mas de que te queixas tu? Tens tanta sorte! Os teus filhos não te dão problemas! E blá, blá, blá!"

 

Mas hoje não quero saber de racionalizar!!! Hoje quero mesmo é soltar a RAIVA!!!! 

 

17
Dez17

Love & Me...


Cristina Ferreira

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Tenho 44 anos e obviamente já não acredito no amor! Love sucks! Love fails and just does not exist! Os homens usam as mulheres, as mulheres usam os homens... E quando já não servem deitam fora! Caso encerrado!

 

Encontrei o verdadeiro amor na maternidade: um bebé, um filho, aceita-nos incondicionalmente! Gorda, feia, despenteada, com borbulhas, de pijama ou camisola rafada! A mamã é a mamã! A mamã é o centro do mundo! A mamã é especial e ponto final! Especial porque está lá, especial pela companhia, pelas conversas, pelo carinho, pelo miminho... Sim isso é amor! Amor verdadeiro, sem condições nem imposições... Eu amo, tu amas... Eu estou aqui para ti e tu estás aí para mim... Amor de verdade que preenche e vale a pena...

 

Mas os filhos vão crescendo... E ou se prendem ou se libertam... E o verdadeiro amor liberta, certo? Fica o medo, o vazio, a solidão, o incerto... Mas eu deixo-os voar... A muito custo, digo que sim quando me apetece dizer que não... "Sim! Claro... vai!" quando me apetece gritar bem alto: "Não! Por favor fica! Não cresças e não me abandones!"

 

Naquela fase da minha vida em que eu já não acreditava em nada, apareceu o meu M. ... O meu M. é diferente dos demais. Não é um príncipe encantado e não tenta transformar-me numa princesa.... O meu M. acompanha-me e ajuda-me simplesmente a voltar a ser eu... Nas "horas vagas", em que eu já não posso, por culpa do auto-afastamento das outras duas partes interessadas neste meu contrato de maternidade, ser a mamã a tempo inteiro, estou a reaprender a ser a Cristina...

 

A Cristina desapareceu quando a mamã apareceu e eu já nem me lembrava que ela existia. O meu M. ajudou-me a reencontrá-la... Não, não é que tenhamos encontrado o amor romântico do "E viveram felizes para sempre!" Não, pelo contrário! Com o meu M. aprendemos, passo a passo, dia após dia, que podem coexistir dois corpos no mesmo espaço sem nenhum dos dois sufocar... Aprendemos que discutir pode ser apenas conversar, readaptar, ceder, aceitar... e acima de tudo avançar! Avançar e lentamente recomeçar...

 

Claro que fico sempre desconfiada e com um pé atrás! É dificil voltar a confiar e acreditar que poderá haver vida para lá de um ninho de mamã vazio... Mas o meu M. veio para me mostrar que pelo menos existe um "talvez"... e que o respeito e o companheirismo existem e na verdade só precisam de um sofá para se enroscar e, no inverno, se possível, também de uma mantinha!

 

15
Dez17

Negociar com o TEMPO em 4 passos... e com sucesso!


Cristina Ferreira

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Primeiro tentei conversar com o TEMPO! Sussurrei-lhe pedindo-lhe com carinho para abrandar um bocadinho... Pû-lo a par das minhas ausências profissionais e pedi-lhe: "Por favor deixa-me aproveitar mais um bocadinho os colinhos, as canções de embalar e as histórias ao deitar..." Mas o TEMPO ignorou-me e não respondeu! Quando dei por ele, os meus meninos tinham crescido mais um pouco e já estavam na escola primária! Se calhar eu falara muito baixinho e o TEMPO não ouviu...

 

Então tentei a chantagem emocional: já tinha suspendido todas as minhas atividades pessoais e não lhe pedi tempo para mim... Todo o tempo fora do trabalho pedi-lho para os meus meninos... Talvez assim, mostrando-lhe apenas o meu banal quotidiano de mãe trabalhadora, ele abrandasse... Mas ele continuou a ignorar-me e os meus meninos foram para o ciclo! Provavelmente, o TEMPO não gosta de ser chantageado...

 

Não desisti e tentei suborná-lo! Com os dois a caminho da secundária, a entrar na adolescência e a distanciarem-se gradualmente de mim, lancei ao TEMPO uma última cartada: "Tempo! Eu agora fico mais por casa, mudo de vida! Abranda agora por favor, deixa que eles voltem só mais um pouco para mim..." O TEMPO não me ouviu e não abrandou, mas é verdade que, mais por casa, recuperei-os um bocadinho...

 

Por fim zanguei-me com o TEMPO pois eles continuam a crescer! "Ó TEMPO! Não me avisaste que a infância ia durar tão pouco! E agora? Tenho tanto tempo para mim... Vou ao ginásio, faço yoga, meditação e tenho muito tempo para ler! Quero voltar a estudar e até tenho tempo para escrever um blog!"

 

Foi então que o TEMPO finalmente respondeu:  "Ah! Finalmente percebeste! Eles cresceram e continuam a crescer saudáveis e equilibrados graças a ti! Até aqui, tu cumpriste a tua missão de mãe... Agora para a completares com sabedoria, terás de lhes dar espaço e libertá-los! Eu vou continuar a passar... Tu não me podes parar! Qualquer dia eles vão para a universidade, é verdade que vais ter sempre saudades! Mas lentamente vais recomeçar..."

 

 

 

 

 

 

27
Nov17

Sorri como sorris quando olhas para mim!


Cristina Ferreira

 

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Este fim de semana, eu precisei de umas fotografias e pedi ao meu bebé grande para ser o meu fotografo. Para mim, tirar fotografias foi sempre uma grande complicação! Para além de não ser muito fotogénica, nunca consigo sorrir para a fotografia... É frustrante não saber fazer sorrisos forçados! Apesar de fofinha, fico sempre com um ar triste e deslavado!

 

Não obstante ser conhecedor desta preciosa informação, este meu fotografo queria a todo o custo que eu sorrisse e insistia: "Anda lá! Sorri! Ficas muito mais bonita quando sorris!"... Eu lá ia forçando, ele lá ia disparando e analisando o resultado, mas nada. "Oh não! Ainda não! Anda lá mamã! Sorri!" 

 

Após várias tentativas frustradas e à beira de desistir, o rosto dele ilumina-se com a expressão mágica, de quem, certo e seguro, acaba de encontrar a solução para o nosso enorme problema! Olha-me muito sério e ordena-me:

"Mamã! Já sei! Sorri como sorris quando olhas para mim!!! Sabes aquele sorriso que fazes quando me vais buscar à escola e me vês chegar junto ao carro?" 

Virou costas e muito decidido dirigiu-se para o corredor. E eu fiquei ali parada, momentaneamente boquiaberta e sem reação, a vê-lo simplesmente desaparecer, sem perceber... Segundos depois, voltou e saltando de repente para a minha frente, gritou: "Mamã! Cheguei!"

 

E aí foi impossível eu não sorrir! Sorri do fundo do coração... e parti-me a rir à gargalhada! 

 

Hoje fui buscá-lo à escola para almoçar... E não é que ele tem razão? Fico ali séria e focada à espera dentro carro... Toca a campainha e começa a sair a multidão... E quando o avisto... é pura magia! Posso estar preocupada, pensativa, deprimida, comprimida... mas quando ele aparece, não preciso de olhar para o espelho para saber e sentir que o meu rosto se abre e ilumina num enorme, sincero e delicioso sorriso!