Pensamentos soltos... ou balanço do fim de semana...
Cristina Ferreira
Planeara fazer limpezas este fim de semana: daquelas limpezas sérias e profundas com direito a lista! O topo da lista estava encabeçado pelo primordial e inadiável objetivo de me desembaraçar dos vestígios de humidade que lentamente teimam em brotar pelos tetos da casa de banho e da varanda! Há quanto tempo andava eu a adiar? Talvez um mês, talvez mais... Mas como era pouquinho, deixava estar...
Sábado à tarde arregacei decididamente as mangas e comecei por atacar furiosamente a varanda! Só parei quando acabei! Orgulhosa, mas de rastos, aterrei no sofá! O plano era parar apenas por uns breves minutos para descansar e continuar logo em seguida, conforme planeado... Mas o sofá levou ao Zapping... O Zapping levou ao TV Cine Séries e: "Olha a repetição do Game of Thrones!"
Nunca vira os episódios iniciais: começara pela 7ª temporada antecedendo-a de um resumo no Youtube para me situar! "Vou só espreitar, não há risco de me interessar!" pensei eu inocentemente pois ficara desiludida com a não ação da 7ª temporada... E cliquei "VER". Temporada 1 - Episódio 1.
O tempo voou! "Afinal a série até é boa!" pensei eu no final do episódio. "Ainda é cedo, vou ver o segundo..." e uma hora mais tarde: "Já agora o terceiro!" Resultado? O teto da casa de banho ficou por limpar e acabei por devorar a totalidade da primeira temporada: os 5 primeiros episódios no sábado e os 5 últimos no domingo! Os segundos acrescidos do 1º da segunda temporada!
Hoje de manhã, veio o vazio...
Cansaço? Afinal acabei por dormir tarde duas noites seguidas para ficar em frente à televisão! Sensação de dever não cumprido? Afinal o objetivo para o fim de semana era limpar os tetos e estudar português e, se ainda limpei uma parte do planeado, no português nem sequer toquei! Sensação de tempo perdido? Ou simplesmente o pico de descida após a euforia e o entusiasmo?
Houve uma época em que eu finalmente percebi que quanto mais alto o meu humor subia, mais baixo a seguir descia... Como um gráfico constantemente oscilante, como um pêndulo que eternamente balança: quanto mais alto sobe mais baixo desce! Por mais feliz que em algum momento eu me sentisse, inevitavelmente e sem razão aparente, a seguir vinha o vazio...
Tempestade após a bonança? Impermanência? Como se explica o vazio que às vezes espreita? Será que todos o sentem? Como é possível sentir o vazio após um fim de semana tão tranquilo?
Na minha juventude, durante anos e anos a fio, eu pensava que eu era uma pessoa melancólica ou simplesmente demasiado sensível. Justificava-o com o facto de ser filha de emigrantes: a consciência do ir e voltar, do despedir e da saudade constante, haviam-me marcado e moldado para sempre... A noção sempre presente de que, crescendo eu numa aldeia do interior, um dia seria a minha vez também de partir...
Será por isso que eu penso demais, que eu observo demais? Hoje percebo que talvez tenha sido sempre o medo do vazio... O medo da tristeza de eu partir e de eu os deixar, o medo de eles partirem e me deixarem... Eles? Os pais, os filhos, a família, os amigos... Os que fazem parte da minha vida e vão ficando ou ficarão para trás...
O pai dos meus filhos também está no estrangeiro. Os meus filhos também vão e voltam enquanto eu fico cá ou o pai fica lá... O pai também vem e vai enquanto eles ficam cá... E se um dia os meus filhos também forem contagiados por esta cruel melancolia?...
São só as voltas que a vida dá... São só pensamentos soltos que por mim vagueiam... Confusos? Sem nexo? Apenas difíceis de entender? Talvez... Sei lá...