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Daily Routine by Cristina Ferreira

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Daily Routine by Cristina Ferreira

30
Jan18

Determinismo ou livre arbítrio?


Cristina Ferreira

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Aluno do 10º ano, o meu menino grande está fascinado com algumas teorias de filosofia. Ontem, ao rever a matéria, quis partilhar comigo alguns dos pontos mais interessantes sobre as teorias de Livre-arbítrio e Determinismo.

 

Chamou-me ao quarto e eu sentei-me na beira da cama. Leu para mim com a sua voz grave e o seu ar seguro de menino que sabe que já não é menino mas de homenzinho que sabe que ainda não é um homem grande... Quando ele era pequenino, era eu que diariamente lia para ele histórias de adormecer e respondia às suas perguntas, ele já deitado e eu sentada na beira da cama... Ontem invertemos os papeis: eu continuava sentada na beira da cama, mas foi ele quem leu para mim e pacientemente respondeu às minhas dúvidas.

 

Confesso que não consegui perceber tudo o que ele tentou, repetidamente, explicar-me pois distraía-me constantemente a observá-lo... "Está grande, está lindo, está bonito o meu menino!" Eu perdida nos meus devaneios, ele continuava: "determinismo... tudo está pré-determinado... ilusão de liberdade de escolha... " "livre-arbítrio... somos nós que escolhemos, que tomamos as nossas decisões..."

 

Lembrei-me do camião que mudou a minha vida... Sim, a maior viragem da minha vida foi fruto do acaso e sim por causa de, atribuí eu, um camião! Há muitos anos atrás, no início da minha carreira profissional, eu regressava de uns dias de férias passados em Coimbra com uma amiga de infância. Viajava pelo IP3, uma estrada de montanha  repleta de zonas onde era impossível ultrapassar! À minha frente, lenta, muito lentamente arrastava-se um camião...

 

Tinha combinado, antes de regressar a casa, passar também por Viseu. Mas, como estava demasiado cansada, entretanto cancelara. De repente ali, desesperada e sem poder ultrapassar com segurança o pesado camião, ao aproximar-me do cruzamento que, ou me levaria direta para casa ou me levaria para Viseu, impulsivamente pensei: "Basta! Se o camião virar para a Guarda, eu sigo para Viseu!" O camião virou para a Guarda e eu segui para Viseu!

 

Foi nesse dia e em Viseu que eu soube da oferta para a empresa na qual a seguir fui trabalhar. Um ano mais tarde foi aí que conheci aquele que viria a ser o meu marido e o pai dos meus filhos! Foi amor à primeira vista, foi uma daquelas paixões intensas e que ofuscam todos os sentidos! Jovens, casámos completamente apaixonados. Tivemos dois filhos... Mas de origens demasiado diferentes, não soubemos juntos construir... Ao fim de 10 anos, desistimos... 

 

Quantas escolhas o acaso faz por nós sem nos apercebermos? Destino? Determinismo? Quantas mais teorias existem para o explicar? Não sei e sou "pequena" demais para o saber... Mas sei que se nesse dia eu não tivesse ido para Viseu, não teria tido conhecimento daquela vaga, não teria trabalhado naquela empresa, não teria conhecido o meu futuro marido e, acima de tudo, não teria hoje os meus filhos!

 

Teria outros filhos? Não conheceria estes e destes não teria saudades? Verdade... Nunca poderemos saber como teria sido a nossa vida se tivéssemos escolhido outros caminhos...

 

No meu caso, e apesar de muita coisa não ter corrido como eu planeei, ainda bem que eu decidi ir por ali... Mas, e quem sabe, talvez já estivesse apenas e afinal tudo simplesmente determinado...

 

 

20
Jan18

E quando valores mais altos se alevantam...


Cristina Ferreira

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Na vida fazemos escolhas, tomamos decisões, decidimos entre opções... Às vezes certas, às vezes erradas... Às vezes impulsivas, às vezes devidamente ponderadas... Às vezes seguimos o nosso coração, às vezes decidimos com alguma objetividade... Às vezes escolhemos o que é deveras melhor para nós, às vezes optamos simplesmente pelo que é mais fácil de alcançar... Às vezes lutamos com todas as nossas forças, às vezes deslizamos apenas, e sem esforço, na corrente... Quando um dia somos forçados a parar e a observar, corremos o risco de, a custo, nos apercebermos que nos limitámos a descer o rio a flutuar...

 

Aos 40 anos fiquei pela primeira vez desempregada: sem planos, sem ideias, sem saídas... Senti-me a bater no fundo, completamente perdida e à deriva! Limitando-me a flutuar, o rio tinha-me arrastado para águas nas quais nunca dantes imaginara um dia vir a navegar... Olhando para trás, na tentativa vã de apurar o percurso que me levara até ali, questionei as minhas escolhas passadas...

 

Nasci em França e aos 12 anos regressei à aldeia natal dos meus pais. Cresci no interior e quando chegou o momento de entrar na Universidade, candidatei-me ao Instituto Politécnico da Guarda para o mais perto possível deles ficar. Fiz um Bacharelato em Comunicação Social e Relações Públicas e, quando terminei, fui fazer estágio numa empresa na qual comecei em seguida a trabalhar.

 

Fizera as cadeiras todas do curso, mas como comecei a trabalhar, nunca completei nem entreguei o relatório de estágio. Sempre empregada, por conta de outrem e 8 anos por conta própria, ignorei totalmente o peso da formação... Ao ficar desempregada fui forçada a analisar pela primeira vez o peso das minhas escolhas passadas...

 

Foi nessa altura também que fui confrontada com uma das frases mais inesquecíveis que algum dia o meu menino grande me disse. No meio de um aceso debate após um daqueles típicos sermões de mãe para filho sobre "Tens de estudar e ser um bom aluno...", olhou-me seriamente, olhos nos olhos, e perguntou-me: "Mamã, tu era boa aluna, não eras?" Não percebendo a pergunta, eu respondi-lhe o que ele já sabia: "Sim..." Inocentemente e de olhos arregalados, ele então exclamou: "E olha onde acabaste!!" E eu olhei: tinha-me tornado numa uma mãe desempregada, deprimida e desesperada... A empresa falira e pela primeira vez eu não fazia a mínima ideia do que ia fazer a seguir...

 

Desde então, oscilo entre empregos e estou longe de alcançar a estabilidade que aos 20 anos imaginava que iria ter ao chegar aos 50. Fruto da nossa sociedade? Muitos na minha faixa etária se encontram na minha situação? Talvez... Seja como for ao analisar o meu perfil profissional percebi que apesar de me considerar uma pessoa dinâmica, organizada e com experiência, fluente em francês e inglês e com conhecimentos de espanhol, para todos efeitos eu só tenho o 12º ano! 

 

Tenho consciência de que mesmo que consiga novamente entrar para a Universidade e completar nova licenciatura, nos dias que correm, isso pouco ou nada se refletirá no valor do meu ordenado... No entanto sinto como que "valores mais altos se alevantam" e é agora ou nunca! Sinto que esta é a minha ultima oportunidade e que com unhas e dentes tenho de a agarrar!

 

Estamos sempre a tempo de recomeçar, de mudar, de nos reinventarmos... Já tenho 44 anos? Não! Só tenho 44 anos! Quero voltar a ter sonhos e planos e quero lutar por eles! Eu estou, eu sei, na segunda metade da minha vida e o rio continuará a descer a arrastar-me em direção ao mar... Mas ainda não "acabei", ainda me faltam muitos anos para lá chegar... Posso flutuar, posso nadar, posso parar quando me apetecer parar, posso observar as praias e a vegetação, posso aprender coisas novas... 

 

Neste momento, todo o meu tempo livre é dedicado a estudar português para a preparação do Exame Nacional! O que custou foi começar! (texto que escrevi a 5 de Dezembro de 2017). E que maior inspiração para recomeçar do que o grandioso Luís Camões que estou agora a estudar? 

 

 

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