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Daily Routine by Cristina Ferreira

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Daily Routine by Cristina Ferreira

09
Fev18

E os sonhos...?


Cristina Ferreira

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Entrei no carro, tirei o casaco, coloquei o cinto. Arranquei e fui arrancada, absorvida pelos meus pensamentos... Na curta viagem, fiquei tão distante que só quando parei me apercebi que já tinha chegado a casa!

 

Tenho sonhos... Quem não os tem? Afinal dizem que o sonho comanda a vida! Há sonhos que são fáceis de alcançar, há sonhos que são talvez mais complicados. Nos primeiros, incluo os que dependem só de mim: eu analiso, eu avalio, eu penso, eu repenso... Se concluo: "Isto é um sonho para mim!" Luto por ele... Luto com unhas e dentes, esforço-me sem desistir até o concretizar! Mas se concluo: "Não! Isto não é um sonho para mim..." Encerro o capitulo. Divago e sonho enquanto me der prazer divagar e sonhar e quando concluo que basta, fico por ali!

 

No segundo grupo coloco os sonhos que dependem, não só de mim, mas também da colaboração de outras pessoas... Vou chamar-lhes "os sonhos de equipa". Nos "sonhos de equipa" somos sempre pelo menos 2, mas por vezes somos mais... Eu conheço a minha parte, eu sei o que consigo ou não fazer, o tempo que consigo ou não dedicar... De mim, eu sei sempre o que posso esperar... Normalmente os outros também sabem o que podem ou não esperar de mim... Sou uma pessoa previsível, confiável... Dedicada e sempre disponível! Disponível por vezes demais...

 

Os outros? Os outros são sempre uma incógnita para mim... Tenho dificuldade em confiar... Nunca sei até onde me vão apoiar, nunca sei até onde posso cegamente confiar... Nunca sei quando me vão desiludir, quando me vão abandonar... Talvez esteja a exagerar... Ou talvez eu seja demasiado perfecionista e exigente...

 

Mas sou assim e não sei ser de outra forma: gosto das coisas bem feitas, bem organizadas, bem determinadas! Não gosto de incertezas, não gosto de "Amanhã talvez consiga..." Não gosto de compromissos que falham... Não gosto quando não se dá importância a um sonho que é importante...

 

Ou será que é importante apenas para mim? Na dúvida, na incerteza, não gosto de "sonhos de equipa"... Não gosto de abstração, ausência ou palavras vãs... Não gosto de fracasso no final de projetos cujos cacos normalmente sobram para mim!

 

Todos os meus sonhos envolvem histórias boas e histórias más... Todos os meus sonhos envolvem pedaços que me deixam feliz e pedaços que, na incerteza, me fazem sufocar e com os quais não sei lidar... Vale a pena eu manter um sonho assim ou é mais simples desistir? Fugir, virar costas, virar a página, esquecer de vez... Desistir! Sim, desistir... Desistir só dói uma vez... Sonhar magoa e volta a magoar... Desilude e volta a desiludir!

 

Aprendi nas sessões de meditação que é importante aprender a aceitar as coisas como elas são. Aceito que tenho um sonho? Aceito que não sei lidar com as personalidades do resto da equipa? Aceito que me angustiam e me sufocam? Aceito que me aterrorizam mas continuo para ver até onde isto me leva? Ou aceito que o melhor é desistir e simplesmente fugir?

 

Por vezes penso que o que nos faz sentir vivos são os sonhos e as emoções que eles nos proporcionam... Afinal o que seria uma vida sem emoções? Vida vazia não seria vida, não valeria a pena ser vivida! Por vezes penso que a minha vida deveria ser uma "linha": sem sonhos, sem expetativas mas também sem desilusões! Uma bela linha reta sem principio nem fim, sem alterações, sem interrupções... Apenas e só uma linha sem oscilações! Uma reta, apenas e só uma reta... 

 

Desliguei o motor. O silêncio abrupto e repentino desligou o fluxo dos meus pensamentos... Abri a porta e sai do carro. Respirei fundo e ouvi o chilrear dos passarinhos... Sorri: estava à porta de casa...

06
Fev18

E eu que sou apenas nada...?


Cristina Ferreira

 

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Todas diferentes, todas iguais? Não!

 

Há mulheres que são mágicas, que têm dons, que são verdadeiramente enfeitiçadoras e são essas que são eternamente desejadas... Há atrizes, há cantoras e há modelos... Há bailarinas, há acrobatas e há desportistas... Há mulheres fascinantes que pelos seus desempenhos hipnotizam e encantam!

 

Há mulheres que sobressaem na profissão: elevados cursos académicos, doutoramentos, bons ordenados e carreiras fulminantes! Há empresárias de sucesso, há mulheres empreendedoras e dedicadas à profissão!

 

E há eu... Eu? Eu que simplesmente não sou nada...

 

Eu que não tenho nenhum talento especial... Eu que não sei dançar, eu que não sei artes marciais, eu que nunca subi a um palco... Eu que sou apenas um nada no meio do nada...

 

Eu que não acabei o curso superior e que mesmo que tivesse acabado, entre doutorados elevados, não seria valorizado... Eu que um dia tive a coragem de trabalhar por conta própria e agora me escondo na toca... Eu que nos últimos anos saltito de emprego em emprego à procura de alguma fugaz estabilidade...

 

Eu sem dom, eu sem curso, eu sem nada que por este mundo vagueio no nada... Eu que me limito a passar sem chamar à atenção... Eu que se teimo em não chamar à atenção passo despercebida... Eu que sou invisível até para quem está ao meu lado... 

 

Às vezes penso que sou... Às vezes penso que existo... Às vezes penso que me vêm e sou vista... Mas depois percebo que não... Que foi apenas um momento, uma doce ilusão... O nada não existe, o nada não se vê... Para merecer ser olhada deveria ser bela e chamar à atenção, para merecer ser olhada teria de ter um dom, para merecer ser olhada teria de ser diplomada... E eu sou apenas nada... Um nada que nem sequer nada pois eu nem sequer sei nadar!

 

E ser nada não é nada... Ser nada é não estar mesmo quando se está... Ser nada é não ser ouvido mesmo quando se fala... O rosto de quem está ao lado do nada vai sempre olhar para o outro lado... O rosto de quem está ao lado do nada é atraído pela beleza do dom de quem têm dom... O rosto de quem está ao lado do nada é atraído pela beleza da realização de quem teve um dia capacidade para hoje ser realizada... 

 

O dom natural e a realização profissional são fruto de admiração. Admiração leva ao desejo e o desejo ao amor... O nada não consegue ser admirado, logo o nada não é desejado, o nada não poderá ser verdadeiramente amado...

 

O nada não é nada... O nada não se vê... O nada não se sente, mas sente... Eu que não sou nada sonhava ser amada apenas por não ser nada... 

 

 

07
Dez17

"Bora lá" falar a sério de prendas de Natal!


Cristina Ferreira

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É triste ouvir cada vez mais dizer que "antigamente é que havia Natal" e que agora se "perdeu o espírito natalício e a magia do Natal". Será conversa de adultos? Será que a magia do Natal é algo que só existe na infância? Ou será que vale a pena olharmos um pouco mais à nossa volta e tentar perceber o que realmente estará a acontecer...

 

A verdadeira magia do Natal não está no "TER", mas sim no "NÃO TER"! 

 

Tenho 44 anos. Quando eu era criança, os meus pais compravam apenas três prendas: uma para mim, uma para o meu irmão e outra para a minha prima. Festejávamos apenas com os meus tios que compravam, também eles, apenas três prendas. Cada criança recebia duas prendas.

 

Esperávamos por essas prendas o ano inteiro! Não havia promoções mensais e muito menos cedências constantes aos nossos pedidos de compra e caprichos! Aprendíamos a esperar e saboreávamos a espera... Existia magia na contagem decrescente dos dias e na expectativa da descoberta. 

 

A magia prolongava-se depois do Natal: a boneca recebida era companhia para o ano inteiro, o carrinho recebido rolava até partir!

 

No mundo de hoje onde tudo é fácil de alcançar, nada se valoriza! Posso partilhar os primeiros Natais dos meus filhos... Como todos os pais da nossa geração, também nós padecíamos de necessidades consumistas exacerbadas: oferecíamos mais de uma dezena de prendas a cada um dos nossos meninos! Prendas que eles abriam em 5 minutos como robots numa linha de montagem: abre, espreita, tira da caixa, olha, vira, revira e põe de lado! Muitas vezes acabavam a noite a brincar com as caixas vazias ou com os laços dos embrulhos!

 

Esperar até ao Natal por uma prenda? Nem pensar! Quantos brinquedos, mimadamente solicitados, não íamos comprando ao longo do ano? 

 

E os adultos? Com promoções constantes o ano inteiro, quem espera pelo Natal? Ele é Black Friday, ele é Ciber Monday, ele é descontos antes dos Saldos, ele é campanhas de Ofertas de IVA ou 50%!

 

E por falar em 50%, lembro-me da primeira campanha de brinquedos de Natal com 50% do Continente, há talvez uns 10 anos atrás, numa segunda quinzena de dezembro... Nos anos seguintes assistimos, por parte das cadeias de hipermercados, a um constante incentivar para antecipar a compra das prendas de Natal. As campanhas de brinquedos que começavam em novembro, agora começam em final de outubro! Claro que em tempos de crise, não se pode sequer hesitar e tem de se aproveitar... Mas para onde vai a magia de ouvir os pedidos, a magia de procurar na expectativa dos olhos das crianças a prenda ideal? Perdeu-se a magia das prendas de ultima hora, do esperar pelas dicas e sugestões, do esperar para ponderar e decidir! Decidimos prendas de Natal em outubro porque pode não voltar outra promoção... E ficamos com elas guardadas, à espera, até ao Natal!

 

"Quem espera desespera!" já dizia o ditado. Mas neste caso não se desespera! Com tanta oferta, ficamos apenas aqui, qual rena fofinha de peluche, sentados a ver desaparecer a magia das prendas de Natal...

21
Nov17

... e hoje eu senti falta da Maria ...


Cristina Ferreira

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as pessoas que são importantes na nossa vida e que nós sabemos que são importantes. Há os filhos e os pais, a família e os amigos. Esses interagem constantemente connosco e sabemos a falta que nos fazem quando não estão por cá.

 

E há as "pessoas invisíveis". As pessoas que enriquecem o nosso dia a dia, mas que olhamos sem ver. As pessoas que se cruzam connosco e que sem nos apercebermos nos tocam a alma...

 

São as "pessoas conhecidas". Não notamos que fazem parte da nossa vida e que recebemos um pouco da delas. Não paramos para pensar quem são realmente ou que vida terão lá fora. Limitamo-nos a absorver, sem agradecer, a energia contagiante com que nos brindam!

 

A Maria é uma dessas pessoas na minha vida. Passa por cá todas as terças-feiras e irradia boa disposição! Fica um "pedaço", faz o seu trabalho, conta umas "cenas", solta umas gargalhas, espalha sorrisos e vai embora! E a minha terça-feira fica mais feliz...

 

É absurdo, mas eu nunca tinha verdadeiramente "visto" a Maria! Chamem-me egoísta, distraída, oportunista... Mas eu hoje "vi" a Maria porque a Maria estava triste... Hoje não me presenteou com a sua energia contagiante, com o seu sorriso sincero e com a sua gargalhada sonora... e hoje eu senti falta da Maria.

 

Entre o grupo de colegas, não me atrevi a perguntar-lhe o que se passava... Mas fiquei a perguntar-me...

quem é afinal a Maria?...