"Não quero perder o meu cabelo, querida..."
Cristina Ferreira
"Amanhã não venho, tenho uma consulta..." Fiquei a olhar para ela... Ainda estávamos na sala onde tínhamos acabado de fazer a aula de Ginástica Localizada. "Não deve ser nada grave..." pensei. "Rotina? Coisas de mulher? Talvez seja melhor eu não perguntar..."
Ela continuou a olhar para mim com ar de quem precisava de desabafar... Eu hesitei mas perguntei: "Mas está tudo bem D. Barbara?" Suspirou, sorriu e arrastadamente respondeu-me: "Não querida..." Eu, que ainda estava alongar, levantei-me e perguntei-lhe surpreendida: "Então, que se passa D. Barbara? Alguma coisa grave?"
"Eu tenho cancro, querida..."
Senti-me paralisar... Sem saber o que dizer, fiquei ali parada a olhar para ela enquanto me contava que o tinham descoberto por acaso numa consulta de rotina... Não tem dores, não sente nada... Mas tem cancro e ainda não consegue acreditar...
Alta e loira, de olhos verdes grandes e expressivos, a D. Bárbara é uma daquelas senhoras da "alta sociedade". Uma Barbie linda e elegante, de olhar meigo e sorriso delicado, possuidora de uma energia contagiante...
"Não vou fazer os tratamentos querida... Fui enfermeira e vi de tudo no hospital... Nesta idade prefiro morrer!"
Conheço a D. Bárbara há quase 3 anos, mas nunca trocáramos mais do que meia dúzia de palavras no início ou no final das aulas. Não sei porque hoje me escolheu a mim para desabafar...
Quando cruzava com ela, eu não conseguia evitar sorrir e pensar: "Espero envelhecer assim..." Imaginava-a quando jovem, linda como uma Brigitte Bardot... Acompanhei-a pelo corredor e, antes de virar, lançou-me um "Não quero perder o meu cabelo, querida..."