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Daily Routine by Cristina Ferreira

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Daily Routine by Cristina Ferreira

15
Fev18

Rescaldo de S. Valentim...


Cristina Ferreira

S. Valentim

 

 

"Hoje quero apenas dizer-te que gosto de ti...

Gosto de ti porque gosto... Gosto de ti porque contigo eu posso ser eu... Gosto de ti porque contigo eu não tenho obrigação de fingir... Gosto de ti porque contigo eu não tenho razão para me esconder ou disfarçar... 

 

Gosto de ti porque trazes à tona o que há de melhor em mim... Gosto de ti porque me dás força, porque me dás garra, porque me apoias e estás para mim... Gosto de ti porque estás aqui e ali e acolá e onde quer que eu de ti precisar! 

 

Gosto de ti porque posso falar-te do meu dia ou simplesmente, ao teu lado, em silêncio ficar... Gosto de ti porque me fazes sentir simplesmente incomparável e incomparavelmente  especial...  Gosto de ti porque me fazes sentir que eu sou parte de ti e tu és parte de mim... Gosto de ti porque eu sei que eu nada seria sem ti...

 

Gosto de ti... simplesmente porque gosto de ti...  "


Ontem foi Dia de S. Valentim, mas estas linhas não foram um discurso entusiasticamente proclamado por um príncipe encantado que chegou no seu cavalo branco... O amor dos contos de fadas não é assim...

Estas linhas raramente são as confissões carinhosas de um marido a quem por ventura se dedicam os melhores anos... O amor e o companheirismo são coisas raras e difíceis de naturalmente alcançar...

Estas linhas poderiam ter sido proferidas pelos lábios de um namorado galante... Mas ramos de rosas vermelhas ou pulseiras prateadas "atulhadas de pérolas inundadas de significado" oferecidas em deslumbrantes jantares de gala são normalmente acompanhadas de palavras fúteis e carentes de significado...

Há palavras que quando são verdadeiramente sentidas não carecem de ser exprimidas... Há gestos que dizem mais do que mil palavras... Há palavras que se leem num olhar... Há palavras que se ouvem sem sequer serem murmuradas... Há palavras que se conseguem ouvir sem escutar...

 

"Gosto de ti... Mas não preciso de o dizer... Tu sabes, tu sentes, tu consegues lê-lo no meu olhar..."

 

 

  Photo by Jeremy Bishop on Unsplash

09
Fev18

E os sonhos...?


Cristina Ferreira

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Entrei no carro, tirei o casaco, coloquei o cinto. Arranquei e fui arrancada, absorvida pelos meus pensamentos... Na curta viagem, fiquei tão distante que só quando parei me apercebi que já tinha chegado a casa!

 

Tenho sonhos... Quem não os tem? Afinal dizem que o sonho comanda a vida! Há sonhos que são fáceis de alcançar, há sonhos que são talvez mais complicados. Nos primeiros, incluo os que dependem só de mim: eu analiso, eu avalio, eu penso, eu repenso... Se concluo: "Isto é um sonho para mim!" Luto por ele... Luto com unhas e dentes, esforço-me sem desistir até o concretizar! Mas se concluo: "Não! Isto não é um sonho para mim..." Encerro o capitulo. Divago e sonho enquanto me der prazer divagar e sonhar e quando concluo que basta, fico por ali!

 

No segundo grupo coloco os sonhos que dependem, não só de mim, mas também da colaboração de outras pessoas... Vou chamar-lhes "os sonhos de equipa". Nos "sonhos de equipa" somos sempre pelo menos 2, mas por vezes somos mais... Eu conheço a minha parte, eu sei o que consigo ou não fazer, o tempo que consigo ou não dedicar... De mim, eu sei sempre o que posso esperar... Normalmente os outros também sabem o que podem ou não esperar de mim... Sou uma pessoa previsível, confiável... Dedicada e sempre disponível! Disponível por vezes demais...

 

Os outros? Os outros são sempre uma incógnita para mim... Tenho dificuldade em confiar... Nunca sei até onde me vão apoiar, nunca sei até onde posso cegamente confiar... Nunca sei quando me vão desiludir, quando me vão abandonar... Talvez esteja a exagerar... Ou talvez eu seja demasiado perfecionista e exigente...

 

Mas sou assim e não sei ser de outra forma: gosto das coisas bem feitas, bem organizadas, bem determinadas! Não gosto de incertezas, não gosto de "Amanhã talvez consiga..." Não gosto de compromissos que falham... Não gosto quando não se dá importância a um sonho que é importante...

 

Ou será que é importante apenas para mim? Na dúvida, na incerteza, não gosto de "sonhos de equipa"... Não gosto de abstração, ausência ou palavras vãs... Não gosto de fracasso no final de projetos cujos cacos normalmente sobram para mim!

 

Todos os meus sonhos envolvem histórias boas e histórias más... Todos os meus sonhos envolvem pedaços que me deixam feliz e pedaços que, na incerteza, me fazem sufocar e com os quais não sei lidar... Vale a pena eu manter um sonho assim ou é mais simples desistir? Fugir, virar costas, virar a página, esquecer de vez... Desistir! Sim, desistir... Desistir só dói uma vez... Sonhar magoa e volta a magoar... Desilude e volta a desiludir!

 

Aprendi nas sessões de meditação que é importante aprender a aceitar as coisas como elas são. Aceito que tenho um sonho? Aceito que não sei lidar com as personalidades do resto da equipa? Aceito que me angustiam e me sufocam? Aceito que me aterrorizam mas continuo para ver até onde isto me leva? Ou aceito que o melhor é desistir e simplesmente fugir?

 

Por vezes penso que o que nos faz sentir vivos são os sonhos e as emoções que eles nos proporcionam... Afinal o que seria uma vida sem emoções? Vida vazia não seria vida, não valeria a pena ser vivida! Por vezes penso que a minha vida deveria ser uma "linha": sem sonhos, sem expetativas mas também sem desilusões! Uma bela linha reta sem principio nem fim, sem alterações, sem interrupções... Apenas e só uma linha sem oscilações! Uma reta, apenas e só uma reta... 

 

Desliguei o motor. O silêncio abrupto e repentino desligou o fluxo dos meus pensamentos... Abri a porta e sai do carro. Respirei fundo e ouvi o chilrear dos passarinhos... Sorri: estava à porta de casa...

08
Fev18

O "Game of Thrones" visto pela mamã....


Cristina Ferreira

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Eu sei que já chego tarde à série, mas não tive a oportunidade de a ver antes... A aproveitar a repetição no TVCine Séries, estou tão fascinada que não posso deixar de escrever sobre ela! 

 

Há duas personagens no "Game of Thrones" que me fascinam... Não, não vou falar do Jon Snow, nem da sua carinha fofinha! Não, não vou falar do charmoso Jaime Lannister, nem dos músculos do fabuloso Khal Drogo! Bom, também reparei neles obviamente! Afinal uma das "enormes desvantagens" de ser mãe de dois meninos é ser "forçada" desde muito cedo a ver filmes de super-heróis, piratas e dragões, batalhas e espadas, músculos e mais músculos! Uma verdadeira tortura! Ao fim de quase 15 anos a acompanhá-los por esse tipo de "cenas", a minha mente foi, inocente e inevitavelmente, moldada e há de facto duas coisas que eu finalmente aprendi a apreciar numa série: uma boa batalha e uns lindos músculos! Coisas que no "Games of Thrones" abundam! Mas, e já agora, realço que esta série estou a ver sozinha, pois considero que há cabeças demais a serem cortadas, para com 13 e 15 anos assistirem...

 

Acabei ontem o último episódio da 2ª temporada e acordei hoje a pensar na Cercei Lannister… Criatura implacável, fria e calculista tem, no entanto, nos seus três filhos o seu ponto fraco. Não ames ninguém, pois amar fragiliza-te! Ama só os teus filhos!” aconselhava ela num dos episódios anteriores... Aceita as loucuras e crueldade do filho mais velho, atual rei, continuando a amá-lo e a defendê-lo contra tudo e contra todos!

 

Ao lado dela, a minha personagem preferida: Tyrion Lannister, o irmão anão, sempre repudiado e humilhado, dos belos Cersei e Jamie Lannister! É doloroso observar não só o quanto é desprezado e não valorizado apesar da inteligência e capacidade de estratégia que tem, como é repugnante a forma como o culpam constantemente pela morte da mãe que faleceu ao lhe dar à luz... Como pode uma criança ser culpada de algo de forma tão absurda?

 

É apenas uma série, eu sei, mas fiquei a pensar nas mães... Não, nem todas as mães amam incondicionalmente os seus filhos... Não, nem todas as mães merecem o amor incondicional dos seus filhos... Talvez uma gravidez não planeada possa levar a uma eterna frustração e afastamento... Talvez elevadas expectativas e exigências que a criança não consiga cumprir possam levar a desilusão e falta de amor pelo próprio filho... Sei que isso existe, mas não consigo sequer imaginar mais razões para pois, felizmente, tive a sorte de não ser assim: adoro os meus meninos mais do que tudo.

 

Consciente de que não sou nem nunca serei uma mãe perfeita tento, no entanto, dar o meu melhor e apoiá-los incondicionalmente: elogiar os pontos mais fortes e aceitar os pontos mais fracos. Ensino-os acima de tudo a perceber que ninguém é perfeito e que não têm de o ser para ser amados! Não faço comparações: nem entre eles, nem com outras crianças... Tento ensiná-los a aceitarem e a valorizarem o que de bom e o que de menos bom têm... 

 

Mas paralelamente, tal como a Cercei Lannister também eu sou, ou fui, demasiado tolerante... Há uns dias atrás, estava eu na sala de espera do dentista e ao meu lado uma criança, que não devia ter mais de 4 ou 5 anos, brincava com os pés no sofá... A mãe repreendia-o, discretamente e sem qualquer convicção, e ele continuava! Farto de estar sentado, a dada altura levantou-se e começou a passear "rapidamente" pela sala de espera! Feliz e contente, soltava gargalhadas e entoava vocábulos num tom que na "Escala dos sons" poderia talvez ser considerado demasiado elevado... A mãe, tranquila, continuava a repreender sem convicção e segura de que ele jamais iria obedecer!

 

Era querido, muito querido o miúdo! A importunar provavelmente todos os que estavam ao meu lado, a mim fez-me sorrir: "Tal e qual como os meus! Adoro putos reguilas!" pensei. Depois, observando os rostos ao meu redor e quase envergonhada, questionei-me: "Será que na altura também me lançavam olhares assassinos e eu nem me apercebia tão encantada estava sempre com os meus dois reguilas?!" Eu não seria, penso eu, capaz de compactuar com loucuras como as do Joffrey Lannister caso algum dia algum dos meus meninos se lembrasse de as fazer! Mas quantos disparates de crianças, que provavelmente importunavam as pessoas à minha volta, eu terei tolerado só por ser uma mãe deslumbrada e babada? Eu que sempre fui demasiado permissiva... 

 

E veio-me à memória a moral de uma história que o meu pai contava: "Quem feio ama, bonito lhe parece!" No meu caso era mais: "Quem reguilas ama, bem comportados lhe parecem!" Adaptei-me aos meus filhos? Sim! Admiro crianças reguilas e mexidas e torço o nariz àquelas demasiado paradas... Serei nisso uma Cersei Lanniston? Talvez... É tão difícil educar!

 

06
Fev18

E eu que sou apenas nada...?


Cristina Ferreira

 

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Todas diferentes, todas iguais? Não!

 

Há mulheres que são mágicas, que têm dons, que são verdadeiramente enfeitiçadoras e são essas que são eternamente desejadas... Há atrizes, há cantoras e há modelos... Há bailarinas, há acrobatas e há desportistas... Há mulheres fascinantes que pelos seus desempenhos hipnotizam e encantam!

 

Há mulheres que sobressaem na profissão: elevados cursos académicos, doutoramentos, bons ordenados e carreiras fulminantes! Há empresárias de sucesso, há mulheres empreendedoras e dedicadas à profissão!

 

E há eu... Eu? Eu que simplesmente não sou nada...

 

Eu que não tenho nenhum talento especial... Eu que não sei dançar, eu que não sei artes marciais, eu que nunca subi a um palco... Eu que sou apenas um nada no meio do nada...

 

Eu que não acabei o curso superior e que mesmo que tivesse acabado, entre doutorados elevados, não seria valorizado... Eu que um dia tive a coragem de trabalhar por conta própria e agora me escondo na toca... Eu que nos últimos anos saltito de emprego em emprego à procura de alguma fugaz estabilidade...

 

Eu sem dom, eu sem curso, eu sem nada que por este mundo vagueio no nada... Eu que me limito a passar sem chamar à atenção... Eu que se teimo em não chamar à atenção passo despercebida... Eu que sou invisível até para quem está ao meu lado... 

 

Às vezes penso que sou... Às vezes penso que existo... Às vezes penso que me vêm e sou vista... Mas depois percebo que não... Que foi apenas um momento, uma doce ilusão... O nada não existe, o nada não se vê... Para merecer ser olhada deveria ser bela e chamar à atenção, para merecer ser olhada teria de ter um dom, para merecer ser olhada teria de ser diplomada... E eu sou apenas nada... Um nada que nem sequer nada pois eu nem sequer sei nadar!

 

E ser nada não é nada... Ser nada é não estar mesmo quando se está... Ser nada é não ser ouvido mesmo quando se fala... O rosto de quem está ao lado do nada vai sempre olhar para o outro lado... O rosto de quem está ao lado do nada é atraído pela beleza do dom de quem têm dom... O rosto de quem está ao lado do nada é atraído pela beleza da realização de quem teve um dia capacidade para hoje ser realizada... 

 

O dom natural e a realização profissional são fruto de admiração. Admiração leva ao desejo e o desejo ao amor... O nada não consegue ser admirado, logo o nada não é desejado, o nada não poderá ser verdadeiramente amado...

 

O nada não é nada... O nada não se vê... O nada não se sente, mas sente... Eu que não sou nada sonhava ser amada apenas por não ser nada... 

 

 

01
Fev18

A procrastinação!


Cristina Ferreira

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Procrastinação: ato ou efeito de procrastinaradiamentodelonga

in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa

 

 

Sonhar acordado em vez de trabalhar ou estudar? Divagar, dar prioridade a tarefas ou actividades não prioritárias? Adiar a realização daquela tarefa ou o estudo daquela matéria seca demais... até não poder mais adiar porque o tempo urge e o adiável converteu-se em obrigatório? No meu tempo chamavam-lhe preguiça, desleixe, irresponsabilidade, falta de produtividade... Palavras e expressões provavelmente demasiado pejorativas, grosseiras e indelicadas foram hoje substituídas pela tão em voga palavra procrastinação!

 

Reconhecida como moda, é quase um orgulho saber procrastinar! Somam-se os artigos sobre dicas para combater a procrastinação: desde aprendermos a aceitar a nossa aptidão inata para a procrastinação e não nos repreendermos injustamente por ela, passando por elaborar listas, dividir tarefas em blocos de tempo, aprender a começar pelas tarefas mais difíceis... até ao eliminar das distrações no ambiente que nos rodeia, realçando inclusivé a possibilidade de instalação de Apps concebidas para bloquear Apps que nos possam eventualmente distrair no computador, tablet ou telemóvel! Vale tudo no que toca à tão famosa e popular procrastinação! Tão bom deixar para amanhã o que podemos fazer hoje! 

 

Hoje ao almoço também nós falámos de procrastinação começando com o nosso já tão familiar diálogo do: "Então filho, correu bem o teste?" versus "Correu mamã mas... talvez pudesse ter corrido melhor... Para  a próxima vou começar a estudar mais cedo..." O dilema dele: criar uma rotina de estudo diária! O meu dilema: como é que uma mãe que também procrastina ensina um filho a não procrastinar?!

 

Já racionalizámos falando mil e uma vezes dos prós e dos contras, já dei sermões de mãe até não já me conseguir ouvir mais, já alterei rotinas de jantar de forma a podermos libertar-nos mais cedo para estudar um pouco a seguir ao jantar... "Está melhor mamã! Desta vez já comecei uns dias antes... Estou a melhorar!

 

Na ultima reunião da escola, a diretora de turma, professora mais velha e experiente, disse uma frase que me ficou no ouvido: "Eles chegam ao 10º ano muito imaturos e vão melhorando... No 11º e 12º a maioria deles já tem rotina de estudo criada e já consegue subir facilmente as notas... O problema é que as notas mais baixas do 10º ano os perseguem e arruinam a média quando chega o momento de concorrerem para a Universidade!"

 

É verdade que vejo no meu menino grande uma evolução e uma maior maturidade... Ele ainda não sabe o que vai querer seguir mais tarde... Com 15 anos como pode saber? Mas e se a diretora de turma tiver razão? E se a sua maturidade não evoluir suficientemente rápido e lhe arruinar mais tarde a média? E se ele descobrir uma súbita vocação para algo que exija uma média mais alta e for tarde demais? 

 

Hoje ao almoço decidi mudar de estratégia:  deixar de lado a procura das hipotéticas técnicas mágicas de criação de rotinas de estudo e aliviar a pressão! Decidi mostrar-lhe com humor o meu próprio cúmulo da procrastinação: o meu cesto da roupa!

 

Considerando-a uma das tarefas domésticas mais inuteis e açambarcadoras de tempo que algum dia inventaram, decidi deixar de passar a ferro há alguns anos atrás! Só compro roupa prática que não exija cuidados desnecessários para além dos inevitáveis lavar, secar, dobrar e guardar! Tenho um segredo: a máquina de secar. Quando o tempo está humido, seco a roupa diretamente nela, mas mesmo quando a seco no estendal, faço-a passar por lá uns minutos para a aquecer! A seguir quentinha é só esticar e dobrar! Até aqui tudo bem: simplificar e despachar a coisa!

 

Faço tudo metodica e rapidamente até ao colocar da roupa no cesto... Depois no momento de passar do cesto para os roupeiros: procrastino! Nunca consegui perceber porquê, mas a verdade é que pouso o cesto na sala e ele fica ali, por vezes só horas a fio, por vezes até ao dia seguinte... O meu menino grande riu-se e disse que até já tinha reparado, mas nunca associara esta parvoíce a procrastinação! 

 

É dificil educar. Devemos ser exigientes? Sim! Devemos exigir-lhes a perfeição? Não... Às vezes quando não sei o que fazer para o motivar, dou-lhe os meus maus exemplos na esperança de que ao, de alguma forma comigo se identificar, se sinta motivado... E às vezes, não é que resulta?! Hoje passou quase duas horas da tarde a estudar! Com pausas e intervalos, verdade, mas conseguiu! E já até me desafiou para estudarmos os dois lado a lado depois de jantar: ele fica na Física e Química e eu vou para o meu Português! 

 

 

30
Jan18

Determinismo ou livre arbítrio?


Cristina Ferreira

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Aluno do 10º ano, o meu menino grande está fascinado com algumas teorias de filosofia. Ontem, ao rever a matéria, quis partilhar comigo alguns dos pontos mais interessantes sobre as teorias de Livre-arbítrio e Determinismo.

 

Chamou-me ao quarto e eu sentei-me na beira da cama. Leu para mim com a sua voz grave e o seu ar seguro de menino que sabe que já não é menino mas de homenzinho que sabe que ainda não é um homem grande... Quando ele era pequenino, era eu que diariamente lia para ele histórias de adormecer e respondia às suas perguntas, ele já deitado e eu sentada na beira da cama... Ontem invertemos os papeis: eu continuava sentada na beira da cama, mas foi ele quem leu para mim e pacientemente respondeu às minhas dúvidas.

 

Confesso que não consegui perceber tudo o que ele tentou, repetidamente, explicar-me pois distraía-me constantemente a observá-lo... "Está grande, está lindo, está bonito o meu menino!" Eu perdida nos meus devaneios, ele continuava: "determinismo... tudo está pré-determinado... ilusão de liberdade de escolha... " "livre-arbítrio... somos nós que escolhemos, que tomamos as nossas decisões..."

 

Lembrei-me do camião que mudou a minha vida... Sim, a maior viragem da minha vida foi fruto do acaso e sim por causa de, atribuí eu, um camião! Há muitos anos atrás, no início da minha carreira profissional, eu regressava de uns dias de férias passados em Coimbra com uma amiga de infância. Viajava pelo IP3, uma estrada de montanha  repleta de zonas onde era impossível ultrapassar! À minha frente, lenta, muito lentamente arrastava-se um camião...

 

Tinha combinado, antes de regressar a casa, passar também por Viseu. Mas, como estava demasiado cansada, entretanto cancelara. De repente ali, desesperada e sem poder ultrapassar com segurança o pesado camião, ao aproximar-me do cruzamento que, ou me levaria direta para casa ou me levaria para Viseu, impulsivamente pensei: "Basta! Se o camião virar para a Guarda, eu sigo para Viseu!" O camião virou para a Guarda e eu segui para Viseu!

 

Foi nesse dia e em Viseu que eu soube da oferta para a empresa na qual a seguir fui trabalhar. Um ano mais tarde foi aí que conheci aquele que viria a ser o meu marido e o pai dos meus filhos! Foi amor à primeira vista, foi uma daquelas paixões intensas e que ofuscam todos os sentidos! Jovens, casámos completamente apaixonados. Tivemos dois filhos... Mas de origens demasiado diferentes, não soubemos juntos construir... Ao fim de 10 anos, desistimos... 

 

Quantas escolhas o acaso faz por nós sem nos apercebermos? Destino? Determinismo? Quantas mais teorias existem para o explicar? Não sei e sou "pequena" demais para o saber... Mas sei que se nesse dia eu não tivesse ido para Viseu, não teria tido conhecimento daquela vaga, não teria trabalhado naquela empresa, não teria conhecido o meu futuro marido e, acima de tudo, não teria hoje os meus filhos!

 

Teria outros filhos? Não conheceria estes e destes não teria saudades? Verdade... Nunca poderemos saber como teria sido a nossa vida se tivéssemos escolhido outros caminhos...

 

No meu caso, e apesar de muita coisa não ter corrido como eu planeei, ainda bem que eu decidi ir por ali... Mas, e quem sabe, talvez já estivesse apenas e afinal tudo simplesmente determinado...

 

 

29
Jan18

Pensamentos soltos... ou balanço do fim de semana...


Cristina Ferreira

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Planeara fazer limpezas este fim de semana: daquelas limpezas sérias e profundas com direito a lista! O topo da lista estava encabeçado pelo primordial e inadiável objetivo de me desembaraçar dos vestígios de humidade que lentamente teimam em brotar pelos tetos da casa de banho e da varanda! Há quanto tempo andava eu a adiar? Talvez um mês, talvez mais... Mas como era pouquinho, deixava estar... 

 

Sábado à tarde arregacei decididamente as mangas e comecei por atacar furiosamente a varanda! Só parei quando acabei! Orgulhosa, mas de rastos, aterrei no sofá! O plano era parar apenas por uns breves minutos para descansar e continuar logo em seguida, conforme planeado... Mas o sofá levou ao Zapping...  O Zapping levou ao TV Cine Séries e: "Olha a repetição do Game of Thrones!"

 

Nunca vira os episódios iniciais: começara pela 7ª temporada antecedendo-a de um resumo no Youtube para me situar! "Vou só espreitar, não há risco de me interessar!" pensei eu inocentemente pois ficara desiludida com a não ação da 7ª temporada... E cliquei "VER". Temporada 1 - Episódio 1.

 

O tempo voou! "Afinal a série até é boa!" pensei eu no final do episódio.  "Ainda é cedo, vou ver o segundo..." e uma hora mais tarde: "Já agora o terceiro!" Resultado? O teto da casa de banho ficou por limpar e acabei por devorar a totalidade da primeira temporada: os 5 primeiros episódios no sábado e os 5 últimos no domingo! Os segundos acrescidos do 1º da segunda temporada! 

 

Hoje de manhã, veio o vazio...

 

Cansaço? Afinal acabei por dormir tarde duas noites seguidas para ficar em frente à televisão! Sensação de dever não cumprido? Afinal o objetivo para o fim de semana era limpar os tetos e estudar português e, se ainda limpei uma parte do planeado, no português nem sequer toquei! Sensação de tempo perdido? Ou simplesmente o pico de descida após a euforia e o entusiasmo? 

 

Houve uma época em que eu finalmente percebi que quanto mais alto o meu humor subia, mais baixo a seguir descia... Como um gráfico constantemente oscilante, como um pêndulo que eternamente balança: quanto mais alto sobe mais baixo desce! Por mais feliz que em algum momento eu me sentisse, inevitavelmente e sem razão aparente, a seguir vinha o vazio...

 

Tempestade após a bonança? Impermanência? Como se explica o vazio que às vezes espreita? Será que todos o sentem? Como é possível sentir o vazio após um fim de semana tão tranquilo?

 

Na minha juventude, durante anos e anos a fio, eu pensava que eu era uma pessoa melancólica ou simplesmente demasiado sensível. Justificava-o com o facto de ser filha de emigrantes: a consciência do ir e voltar, do despedir e da saudade constante, haviam-me marcado e moldado para sempre... A noção sempre presente de que, crescendo eu numa aldeia do interior, um dia seria a minha vez também de partir... 

 

Será por isso que eu penso demais, que eu observo demais? Hoje percebo que talvez tenha sido sempre o medo do vazio... O medo da tristeza de eu partir e de eu os deixar, o medo de eles partirem e me deixarem... Eles? Os pais, os filhos, a família, os amigos... Os que fazem parte da minha vida e vão ficando ou ficarão para trás...

 

O pai dos meus filhos também está no estrangeiro. Os meus filhos também vão e voltam enquanto eu fico cá ou o pai fica lá... O pai também vem e vai enquanto eles ficam cá... E se um dia os meus filhos também forem contagiados por esta cruel melancolia?...

 

São só as voltas que a vida dá... São só pensamentos soltos que por mim vagueiam... Confusos? Sem nexo? Apenas difíceis de entender? Talvez... Sei lá... 

27
Jan18

Sou uma mãe babada!!!


Cristina Ferreira

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Verdade: sou uma mãe babada! Sempre fui... Costumam dizer-me que tenho muita sorte com os meus filhos e é verdade: tenho!

 

Educar não é tarefa fácil e, como talvez a maioria das mães, também eu sinto que cometi muitos erros. No entanto, quando tenho diálogos como o que há pouco tive com o meu menino grande, ele vira costas e eu sorrio orgulhosamente pensando sem qualquer ponta de humildade: "Esta forma de pensar, de planear, de decidir... Fui EU que lhe ensinei!"

 

Não sou uma mãe galinha! Costumo dizer que não estou sempre em cima deles, mas estou um metro atrás sempre atenta e prontinha para os apanhar se houver algum risco de caírem!" Estou atrás, estou ao lado... Acompanho, observo, vigio, analiso... Tudo sempre sem impedir que eles aprendam sozinhos o que devem aprender sozinhos, sem impedir que se testem, sem impedir que cresçam...

 

Quando eram pequeninos, contrariamente aos conselhos que pessoas ao meu redor me davam, nunca os deixei chorar sozinhos! Adormeci-os muitas e muitas vezes ao colo! Agoiravam que eu estava a criar filhos mimados e caprichosos! Mentira! Objetivamente: mentira! Eu criei filhos que sabem que aconteça o que acontecer podem sempre contar comigo...

 

Quando eram pequeninos e colocavam mil e uma questões, sobre tudo e sobre nada, a todas eu respondia... Nunca deixei uma única questão por responder! Nunca respondi com um "Sim, sim!" ou um "Não, não!" sem ouvir com atenção... Sempre que tinham uma dúvida, uma questão, eu tentava responder e repetia até eles perceberem e não restar qualquer hesitação... E eles aprenderam a confiar em mim!

 

Por vezes, no final de um dia de trabalho, era difícil... Mas eu tentava explicar: "Desculpa... Podes esperar só um bocadinho que a mamã está cansada..." Aprenderam que mamã não era incansável e que a mamã às vezes precisava de silêncio... Aprenderam que depois de descansar voltava e lhes dava toda a atenção... Eles aprenderam a respeitar!

 

Nunca dei ordens sem explicar porquê. Nunca usei o "Porque sim!" ou o "Porque eu é que mando!" Explicava porque é que era o mais correto, o mais saudável, o melhor para eles... Se me desafiaram? Claro que sim! Se eu poderia ter sido mais rigorosa? Talvez... Se teria sido melhor para eles? Não sei...

 

Ensinei-lhes o porquê de existirem regras e rotinas pois só assim as podem cumprir de livre vontade. Ensinei-os a pensarem por eles, a ter opinião própria e espírito crítico, a saber observar, avaliar e decidir... Nas tomadas decisão, claro que a última palavra é minha, mas desde sempre debati os mais variados temas com eles...

 

Às vezes é difícil perceber onde está a fronteira, perceber onde está o limite entre o correcto, o excesso e o errado. Sim é difícil educar e impossível não falhar... 

 

Não! Os meus filhos não são dois anjinhos perfeitos! Pelo contrário: com dois anos de diferença de idade entre eles, sempre foram dois reguilas! Mas são os meus reguilas! E eu sou uma mãe babada! Não sei o que o futuro me reserva, mas neste momento sinto que os estou a colocar no bom caminho...