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Daily Routine by Cristina Ferreira

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Daily Routine by Cristina Ferreira

15
Fev18

Rescaldo de S. Valentim...


Cristina Ferreira

S. Valentim

 

 

"Hoje quero apenas dizer-te que gosto de ti...

Gosto de ti porque gosto... Gosto de ti porque contigo eu posso ser eu... Gosto de ti porque contigo eu não tenho obrigação de fingir... Gosto de ti porque contigo eu não tenho razão para me esconder ou disfarçar... 

 

Gosto de ti porque trazes à tona o que há de melhor em mim... Gosto de ti porque me dás força, porque me dás garra, porque me apoias e estás para mim... Gosto de ti porque estás aqui e ali e acolá e onde quer que eu de ti precisar! 

 

Gosto de ti porque posso falar-te do meu dia ou simplesmente, ao teu lado, em silêncio ficar... Gosto de ti porque me fazes sentir simplesmente incomparável e incomparavelmente  especial...  Gosto de ti porque me fazes sentir que eu sou parte de ti e tu és parte de mim... Gosto de ti porque eu sei que eu nada seria sem ti...

 

Gosto de ti... simplesmente porque gosto de ti...  "


Ontem foi Dia de S. Valentim, mas estas linhas não foram um discurso entusiasticamente proclamado por um príncipe encantado que chegou no seu cavalo branco... O amor dos contos de fadas não é assim...

Estas linhas raramente são as confissões carinhosas de um marido a quem por ventura se dedicam os melhores anos... O amor e o companheirismo são coisas raras e difíceis de naturalmente alcançar...

Estas linhas poderiam ter sido proferidas pelos lábios de um namorado galante... Mas ramos de rosas vermelhas ou pulseiras prateadas "atulhadas de pérolas inundadas de significado" oferecidas em deslumbrantes jantares de gala são normalmente acompanhadas de palavras fúteis e carentes de significado...

Há palavras que quando são verdadeiramente sentidas não carecem de ser exprimidas... Há gestos que dizem mais do que mil palavras... Há palavras que se leem num olhar... Há palavras que se ouvem sem sequer serem murmuradas... Há palavras que se conseguem ouvir sem escutar...

 

"Gosto de ti... Mas não preciso de o dizer... Tu sabes, tu sentes, tu consegues lê-lo no meu olhar..."

 

 

  Photo by Jeremy Bishop on Unsplash

09
Fev18

E os sonhos...?


Cristina Ferreira

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Entrei no carro, tirei o casaco, coloquei o cinto. Arranquei e fui arrancada, absorvida pelos meus pensamentos... Na curta viagem, fiquei tão distante que só quando parei me apercebi que já tinha chegado a casa!

 

Tenho sonhos... Quem não os tem? Afinal dizem que o sonho comanda a vida! Há sonhos que são fáceis de alcançar, há sonhos que são talvez mais complicados. Nos primeiros, incluo os que dependem só de mim: eu analiso, eu avalio, eu penso, eu repenso... Se concluo: "Isto é um sonho para mim!" Luto por ele... Luto com unhas e dentes, esforço-me sem desistir até o concretizar! Mas se concluo: "Não! Isto não é um sonho para mim..." Encerro o capitulo. Divago e sonho enquanto me der prazer divagar e sonhar e quando concluo que basta, fico por ali!

 

No segundo grupo coloco os sonhos que dependem, não só de mim, mas também da colaboração de outras pessoas... Vou chamar-lhes "os sonhos de equipa". Nos "sonhos de equipa" somos sempre pelo menos 2, mas por vezes somos mais... Eu conheço a minha parte, eu sei o que consigo ou não fazer, o tempo que consigo ou não dedicar... De mim, eu sei sempre o que posso esperar... Normalmente os outros também sabem o que podem ou não esperar de mim... Sou uma pessoa previsível, confiável... Dedicada e sempre disponível! Disponível por vezes demais...

 

Os outros? Os outros são sempre uma incógnita para mim... Tenho dificuldade em confiar... Nunca sei até onde me vão apoiar, nunca sei até onde posso cegamente confiar... Nunca sei quando me vão desiludir, quando me vão abandonar... Talvez esteja a exagerar... Ou talvez eu seja demasiado perfecionista e exigente...

 

Mas sou assim e não sei ser de outra forma: gosto das coisas bem feitas, bem organizadas, bem determinadas! Não gosto de incertezas, não gosto de "Amanhã talvez consiga..." Não gosto de compromissos que falham... Não gosto quando não se dá importância a um sonho que é importante...

 

Ou será que é importante apenas para mim? Na dúvida, na incerteza, não gosto de "sonhos de equipa"... Não gosto de abstração, ausência ou palavras vãs... Não gosto de fracasso no final de projetos cujos cacos normalmente sobram para mim!

 

Todos os meus sonhos envolvem histórias boas e histórias más... Todos os meus sonhos envolvem pedaços que me deixam feliz e pedaços que, na incerteza, me fazem sufocar e com os quais não sei lidar... Vale a pena eu manter um sonho assim ou é mais simples desistir? Fugir, virar costas, virar a página, esquecer de vez... Desistir! Sim, desistir... Desistir só dói uma vez... Sonhar magoa e volta a magoar... Desilude e volta a desiludir!

 

Aprendi nas sessões de meditação que é importante aprender a aceitar as coisas como elas são. Aceito que tenho um sonho? Aceito que não sei lidar com as personalidades do resto da equipa? Aceito que me angustiam e me sufocam? Aceito que me aterrorizam mas continuo para ver até onde isto me leva? Ou aceito que o melhor é desistir e simplesmente fugir?

 

Por vezes penso que o que nos faz sentir vivos são os sonhos e as emoções que eles nos proporcionam... Afinal o que seria uma vida sem emoções? Vida vazia não seria vida, não valeria a pena ser vivida! Por vezes penso que a minha vida deveria ser uma "linha": sem sonhos, sem expetativas mas também sem desilusões! Uma bela linha reta sem principio nem fim, sem alterações, sem interrupções... Apenas e só uma linha sem oscilações! Uma reta, apenas e só uma reta... 

 

Desliguei o motor. O silêncio abrupto e repentino desligou o fluxo dos meus pensamentos... Abri a porta e sai do carro. Respirei fundo e ouvi o chilrear dos passarinhos... Sorri: estava à porta de casa...

20
Jan18

E quando valores mais altos se alevantam...


Cristina Ferreira

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Na vida fazemos escolhas, tomamos decisões, decidimos entre opções... Às vezes certas, às vezes erradas... Às vezes impulsivas, às vezes devidamente ponderadas... Às vezes seguimos o nosso coração, às vezes decidimos com alguma objetividade... Às vezes escolhemos o que é deveras melhor para nós, às vezes optamos simplesmente pelo que é mais fácil de alcançar... Às vezes lutamos com todas as nossas forças, às vezes deslizamos apenas, e sem esforço, na corrente... Quando um dia somos forçados a parar e a observar, corremos o risco de, a custo, nos apercebermos que nos limitámos a descer o rio a flutuar...

 

Aos 40 anos fiquei pela primeira vez desempregada: sem planos, sem ideias, sem saídas... Senti-me a bater no fundo, completamente perdida e à deriva! Limitando-me a flutuar, o rio tinha-me arrastado para águas nas quais nunca dantes imaginara um dia vir a navegar... Olhando para trás, na tentativa vã de apurar o percurso que me levara até ali, questionei as minhas escolhas passadas...

 

Nasci em França e aos 12 anos regressei à aldeia natal dos meus pais. Cresci no interior e quando chegou o momento de entrar na Universidade, candidatei-me ao Instituto Politécnico da Guarda para o mais perto possível deles ficar. Fiz um Bacharelato em Comunicação Social e Relações Públicas e, quando terminei, fui fazer estágio numa empresa na qual comecei em seguida a trabalhar.

 

Fizera as cadeiras todas do curso, mas como comecei a trabalhar, nunca completei nem entreguei o relatório de estágio. Sempre empregada, por conta de outrem e 8 anos por conta própria, ignorei totalmente o peso da formação... Ao ficar desempregada fui forçada a analisar pela primeira vez o peso das minhas escolhas passadas...

 

Foi nessa altura também que fui confrontada com uma das frases mais inesquecíveis que algum dia o meu menino grande me disse. No meio de um aceso debate após um daqueles típicos sermões de mãe para filho sobre "Tens de estudar e ser um bom aluno...", olhou-me seriamente, olhos nos olhos, e perguntou-me: "Mamã, tu era boa aluna, não eras?" Não percebendo a pergunta, eu respondi-lhe o que ele já sabia: "Sim..." Inocentemente e de olhos arregalados, ele então exclamou: "E olha onde acabaste!!" E eu olhei: tinha-me tornado numa uma mãe desempregada, deprimida e desesperada... A empresa falira e pela primeira vez eu não fazia a mínima ideia do que ia fazer a seguir...

 

Desde então, oscilo entre empregos e estou longe de alcançar a estabilidade que aos 20 anos imaginava que iria ter ao chegar aos 50. Fruto da nossa sociedade? Muitos na minha faixa etária se encontram na minha situação? Talvez... Seja como for ao analisar o meu perfil profissional percebi que apesar de me considerar uma pessoa dinâmica, organizada e com experiência, fluente em francês e inglês e com conhecimentos de espanhol, para todos efeitos eu só tenho o 12º ano! 

 

Tenho consciência de que mesmo que consiga novamente entrar para a Universidade e completar nova licenciatura, nos dias que correm, isso pouco ou nada se refletirá no valor do meu ordenado... No entanto sinto como que "valores mais altos se alevantam" e é agora ou nunca! Sinto que esta é a minha ultima oportunidade e que com unhas e dentes tenho de a agarrar!

 

Estamos sempre a tempo de recomeçar, de mudar, de nos reinventarmos... Já tenho 44 anos? Não! Só tenho 44 anos! Quero voltar a ter sonhos e planos e quero lutar por eles! Eu estou, eu sei, na segunda metade da minha vida e o rio continuará a descer a arrastar-me em direção ao mar... Mas ainda não "acabei", ainda me faltam muitos anos para lá chegar... Posso flutuar, posso nadar, posso parar quando me apetecer parar, posso observar as praias e a vegetação, posso aprender coisas novas... 

 

Neste momento, todo o meu tempo livre é dedicado a estudar português para a preparação do Exame Nacional! O que custou foi começar! (texto que escrevi a 5 de Dezembro de 2017). E que maior inspiração para recomeçar do que o grandioso Luís Camões que estou agora a estudar? 

 

 

15
Jan18

Olhar o mar.. ou amar?...


Cristina Ferreira

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Por mais teorias que se inventem sobre a importância da solidão e o aprender a viver sozinho, continuo a achar que é tudo treta e que na verdade poucos são os que gostam, querem ou conseguem estar sempre sós!

 

Separei-me há 8 anos atrás... Inicialmente, e apesar da inevitável dor causada pela separação, adorei a sensação de liberdade novamente adquirida! Ao meu lado, a absoluta certeza de que só sozinha conseguiria caminhar em direção à tão buscada felicidade! "Todo o espaço e tempo disponíveis na minha vida são agora só para mim e para os meus filhos!" pensara eu, e com convicção, na altura... Doce ilusão!

 

Se os esporádicos fins de semana sem os meus meninos até se foram tornando suportáveis, as férias não! Foi aliás nas primeiras férias em que eles partiram com o pai, e apenas durante uma semana seguida, que eu senti, pela primeira vez, que um dia eles iriam partir para sempre e que para sempre eu iria ficar sozinha!

 

Foi aí que começou a minha luta com o tempo, foi aí que eu percebi que o tempo voaria e foi aí que eu percebi que eles iriam crescer a uma velocidade que eu jamais iria conseguir controlar!

 

"Ainda és jovem! Ainda és bonita! Logo casas outra vez!" repetiam à minha volta... Mas eu só pensava: "E os meus filhos? Como se introduz uma nova pessoa na vida deles sem ocupar espaço? Como posso eu sequer ter tempo, "concentração" ou até "disposição" para um relacionamento sem roubar o tempo deles?..."

 

Eu sei, eu sei! Dirão as mães mais práticas e experientes que eu penso demais! E sim, talvez seja verdade... Mas os meus filhos são os meus filhos e, digam o que disserem, façam o que fizerem, os meus filhos foram e serão sempre a minha prioridade... Pelo menos enquanto eles assim o desejarem... E sim, friso: "assim o desejarem" pois sei que isso está e vai continuar a "mudar"... E, foi e é, esse "mudar" que me permitiu começar a sentir e a usufruir de "alguma liberdade"...

 

Inicialmente, quando eles partiam de férias, eu tentava sair, divertir-me e até conhecer novas pessoas.... Mas quando eles voltavam, eu sentia-me novamente completa e preenchida e, uma pessoa nova que tentasse entrar num mundo que só a nós os três pertencia, tornava-se inevitavelmente, e a curto prazo, um invasor mal recebido!

 

Um dia decidi que bastava: ia seguir à riscas as teorias da solidão e que se lixasse quem me queria voltar a casar! Não adiantava eu tentar enganar-me: os meus filhos eram o centro da minha vida e ninguém ia conseguir entrar para ficar! Confesso que começou por correr bem ... Mas aí conheci o meu M.!

 

O meu M. foi diferente... Não pressionou, não exigiu, não invadiu... Aceitou e admirou a mãe que eu era, a mãe que eu sou e a mãe que eu, espero, continuarei a ser... Mas nesta que é, quiçá, uma fase de transição, em os meus meninos já não me "querem" a tempo inteiro e são os primeiros, ao domingo à tarde, a "despachar-me" com um carinhoso: "Vai mamã! Vai ter com o teu M.!" para assim poderem ficar tranquilos a jogar on-line com os amigos, agora sim, eu vou sem remorsos e sem culpa... Deixo a mamã em casa e levo apenas comigo a Cristina que sente que já tem o direito de voltar...

 

Há uns anos atrás, quando ainda vivíamos, em família, em Viana do Castelo, íamos frequentemente os quatro passear à beira mar. Com o meu, na altura, ainda marido observávamos perguntando-nos, sem conseguir entender, qual seria o prazer de ficar apenas dentro do carro a olhar o mar... Gozávamos dizendo que, aquele ato repetido por ocupantes de inúmeros carros estacionados alinhados, lado a lado, ao longo da praia, devia ser alguma elaborada e enraizada tradição Vianense!

 

Ontem fui com o meu M. à beira mar. Estava vento e ficámos no carro. Lembrei-me de Viana percebendo que, num casamento, ou numa vida em que já não se é feliz, se quer mais e sempre mais: sair, passear, fazer mil e uma coisas para disfarçar e ocultar a infelicidade que vai chegando e se instalando... 

 

Às vezes sinto-me a oscilar entre dois mundos... Num ainda sou só a mamã, noutro volto aos poucos a ser também a Cristina... Uma Cristina que agora até consegue, num domingo à tarde, ficar feliz, quentinha no carro à beira mar, simplesmente a olhar o mar ... e a amar... 

17
Dez17

Love & Me...


Cristina Ferreira

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Tenho 44 anos e obviamente já não acredito no amor! Love sucks! Love fails and just does not exist! Os homens usam as mulheres, as mulheres usam os homens... E quando já não servem deitam fora! Caso encerrado!

 

Encontrei o verdadeiro amor na maternidade: um bebé, um filho, aceita-nos incondicionalmente! Gorda, feia, despenteada, com borbulhas, de pijama ou camisola rafada! A mamã é a mamã! A mamã é o centro do mundo! A mamã é especial e ponto final! Especial porque está lá, especial pela companhia, pelas conversas, pelo carinho, pelo miminho... Sim isso é amor! Amor verdadeiro, sem condições nem imposições... Eu amo, tu amas... Eu estou aqui para ti e tu estás aí para mim... Amor de verdade que preenche e vale a pena...

 

Mas os filhos vão crescendo... E ou se prendem ou se libertam... E o verdadeiro amor liberta, certo? Fica o medo, o vazio, a solidão, o incerto... Mas eu deixo-os voar... A muito custo, digo que sim quando me apetece dizer que não... "Sim! Claro... vai!" quando me apetece gritar bem alto: "Não! Por favor fica! Não cresças e não me abandones!"

 

Naquela fase da minha vida em que eu já não acreditava em nada, apareceu o meu M. ... O meu M. é diferente dos demais. Não é um príncipe encantado e não tenta transformar-me numa princesa.... O meu M. acompanha-me e ajuda-me simplesmente a voltar a ser eu... Nas "horas vagas", em que eu já não posso, por culpa do auto-afastamento das outras duas partes interessadas neste meu contrato de maternidade, ser a mamã a tempo inteiro, estou a reaprender a ser a Cristina...

 

A Cristina desapareceu quando a mamã apareceu e eu já nem me lembrava que ela existia. O meu M. ajudou-me a reencontrá-la... Não, não é que tenhamos encontrado o amor romântico do "E viveram felizes para sempre!" Não, pelo contrário! Com o meu M. aprendemos, passo a passo, dia após dia, que podem coexistir dois corpos no mesmo espaço sem nenhum dos dois sufocar... Aprendemos que discutir pode ser apenas conversar, readaptar, ceder, aceitar... e acima de tudo avançar! Avançar e lentamente recomeçar...

 

Claro que fico sempre desconfiada e com um pé atrás! É dificil voltar a confiar e acreditar que poderá haver vida para lá de um ninho de mamã vazio... Mas o meu M. veio para me mostrar que pelo menos existe um "talvez"... e que o respeito e o companheirismo existem e na verdade só precisam de um sofá para se enroscar e, no inverno, se possível, também de uma mantinha!