A procrastinação!
Cristina Ferreira
Procrastinação: ato ou efeito de procrastinar; adiamento; delonga
in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa
Sonhar acordado em vez de trabalhar ou estudar? Divagar, dar prioridade a tarefas ou actividades não prioritárias? Adiar a realização daquela tarefa ou o estudo daquela matéria seca demais... até não poder mais adiar porque o tempo urge e o adiável converteu-se em obrigatório? No meu tempo chamavam-lhe preguiça, desleixe, irresponsabilidade, falta de produtividade... Palavras e expressões provavelmente demasiado pejorativas, grosseiras e indelicadas foram hoje substituídas pela tão em voga palavra procrastinação!
Reconhecida como moda, é quase um orgulho saber procrastinar! Somam-se os artigos sobre dicas para combater a procrastinação: desde aprendermos a aceitar a nossa aptidão inata para a procrastinação e não nos repreendermos injustamente por ela, passando por elaborar listas, dividir tarefas em blocos de tempo, aprender a começar pelas tarefas mais difíceis... até ao eliminar das distrações no ambiente que nos rodeia, realçando inclusivé a possibilidade de instalação de Apps concebidas para bloquear Apps que nos possam eventualmente distrair no computador, tablet ou telemóvel! Vale tudo no que toca à tão famosa e popular procrastinação! Tão bom deixar para amanhã o que podemos fazer hoje!
Hoje ao almoço também nós falámos de procrastinação começando com o nosso já tão familiar diálogo do: "Então filho, correu bem o teste?" versus "Correu mamã mas... talvez pudesse ter corrido melhor... Para a próxima vou começar a estudar mais cedo..." O dilema dele: criar uma rotina de estudo diária! O meu dilema: como é que uma mãe que também procrastina ensina um filho a não procrastinar?!
Já racionalizámos falando mil e uma vezes dos prós e dos contras, já dei sermões de mãe até não já me conseguir ouvir mais, já alterei rotinas de jantar de forma a podermos libertar-nos mais cedo para estudar um pouco a seguir ao jantar... "Está melhor mamã! Desta vez já comecei uns dias antes... Estou a melhorar!"
Na ultima reunião da escola, a diretora de turma, professora mais velha e experiente, disse uma frase que me ficou no ouvido: "Eles chegam ao 10º ano muito imaturos e vão melhorando... No 11º e 12º a maioria deles já tem rotina de estudo criada e já consegue subir facilmente as notas... O problema é que as notas mais baixas do 10º ano os perseguem e arruinam a média quando chega o momento de concorrerem para a Universidade!"
É verdade que vejo no meu menino grande uma evolução e uma maior maturidade... Ele ainda não sabe o que vai querer seguir mais tarde... Com 15 anos como pode saber? Mas e se a diretora de turma tiver razão? E se a sua maturidade não evoluir suficientemente rápido e lhe arruinar mais tarde a média? E se ele descobrir uma súbita vocação para algo que exija uma média mais alta e for tarde demais?
Hoje ao almoço decidi mudar de estratégia: deixar de lado a procura das hipotéticas técnicas mágicas de criação de rotinas de estudo e aliviar a pressão! Decidi mostrar-lhe com humor o meu próprio cúmulo da procrastinação: o meu cesto da roupa!
Considerando-a uma das tarefas domésticas mais inuteis e açambarcadoras de tempo que algum dia inventaram, decidi deixar de passar a ferro há alguns anos atrás! Só compro roupa prática que não exija cuidados desnecessários para além dos inevitáveis lavar, secar, dobrar e guardar! Tenho um segredo: a máquina de secar. Quando o tempo está humido, seco a roupa diretamente nela, mas mesmo quando a seco no estendal, faço-a passar por lá uns minutos para a aquecer! A seguir quentinha é só esticar e dobrar! Até aqui tudo bem: simplificar e despachar a coisa!
Faço tudo metodica e rapidamente até ao colocar da roupa no cesto... Depois no momento de passar do cesto para os roupeiros: procrastino! Nunca consegui perceber porquê, mas a verdade é que pouso o cesto na sala e ele fica ali, por vezes só horas a fio, por vezes até ao dia seguinte... O meu menino grande riu-se e disse que até já tinha reparado, mas nunca associara esta parvoíce a procrastinação!
É dificil educar. Devemos ser exigientes? Sim! Devemos exigir-lhes a perfeição? Não... Às vezes quando não sei o que fazer para o motivar, dou-lhe os meus maus exemplos na esperança de que ao, de alguma forma comigo se identificar, se sinta motivado... E às vezes, não é que resulta?! Hoje passou quase duas horas da tarde a estudar! Com pausas e intervalos, verdade, mas conseguiu! E já até me desafiou para estudarmos os dois lado a lado depois de jantar: ele fica na Física e Química e eu vou para o meu Português!